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13.4.21

PÁSSAROS


 




PÁSSAROS


    Os pássaros estão inquietos no céu e isso sempre me preocupa, costumo pensar que eles sempre sabem um pouco mais do que a gente, como por exemplo a aproximação de uma chuva forte, mesmo os urubus sobrevoando um determinado local e você deduz, bom... Você sabe o que a gente costuma deduzir. Mas, hoje está diferente, sinto um clima um tanto estranho, pesado, quase parando, como se quisesse que eu parasse também e talvez, por ter essa sensação eles estejam tão inquietos, será que sabem de algo?

    Sirvo-me de um copo de vodca, coloco duas pedras de gelo que aos poucos vão deixando a vodca mais suave, escoro sobre a janela da lateral da casa e no momento em que tomo um pequeno gole, os mesmos pássaros passam cruzando a minha vista, vão em direção ao horizonte, ainda é a simples inquietação, ou estão fugindo de algo? Têm alguns gatos na rua, mas creio que não deve ter sido o caso, há tempos não vejo isso, eles costumam fugir assim de fogos de artificio, as luzes no céu mais escuro, o barulho da explosão, mas não teve nada disso, está claro também, não haveria porquê se assustar com a luz; tomo o ultimo gole enquanto observo os pássaros sumirem no horizonte. Saio da janela.

    Passo uma água no copo para tirar o gelado do copo, sento a mesa e coloco café no copo, ainda remoo tudo o que acabei de pensar, os pássaros, a inquietação, o ar estranho, os fogos de artificio, as luzes e o estampido, o estampido... "BUM!"

    Isso não foi um fogo de artificio, ou bombinha. Corro para a porta, é na casa da frente, escuto mais um barulho, é um tiro, agora o silêncio... Dou um minuto e vou em direção a casa, pé ante pé me aproximo da janela, uso a câmera frontal para olhar dentro do cômodo, vejo três corpos no chão e o sangue, toda a família no chão, o filho e os pais, me afasto rapidamente e tento ligar para a policia, por aqui eles sempre demoram pra chegar.

    Novamente em casa, eu tomo outro copo de café e vou para o portão, três horas se passaram e não teve sinal de alguma viatura, ninguém se atreveu a ir olhar para saber o que aconteceu, inventar alguma linha para a cena que se encontra, só eu fui ver o que era. Olho para o alto e tenho a impressão de ver dois ou três urubus sobrevoando aqui, sorrio por constatar que sei mais do que eles.


Henrique Sanvas

1.10.20

A ultima ligação




    Eu podia o barulho de sirenes lá fora vindo ao longe, sabia que vinham na minha direção e alguma coisa dentro de mim me dizia que vinham para mim e que tinha motivos para isso, mas, eu não conseguia me lembrar o real motivo para isso. Me vi no chão, com a visão ainda embaçada e com a visão turva, olho em volta e vejo uma garrafa vazia, de um pretenso uísque barato e acredito que isso já explique a minha falta de memória. 


    Na verdade, eu nem mesmo reconheço o ambiente em que estou, mas a julgar o a mobília e o cheiro forte impregnado de cigarro, eu estou num quarto barato de um motel barato e ou eu estou fugindo de alguém, ou eu estou aqui com alguém, mas não lembro e nem percebo a presença de ninguém, me apoio na cama box que está molhada, concluo que seja suor, afinal de contas por estar num quarto de motel, talvez eu tenha suado bastante. 


    As sirenes se aproximam mais, sem olhar em volta eu me dirijo a porta do quarto que dá para uma garagem, deve ser umas nove da manhã, eu olho através das grades da garagem e o movimento parece o mesmo um carro dos mais recentes sai de uma das suítes mais caras, enquanto isso um carro mais simples entrar na suíte em frente a minha, tudo parece estranhamente normal, volto para o quarto para vestir as minhas  roupas, minha vista já está melhor e a cabeça também, mas a memoria ainda está sob uma névoa escura.


    As sirenes estão cada vez mais próximas... Ao entrar novamente no quarto, eu sou surpreendido ao olhar para a cama e ao reparar que o molhado que antes eu acreditava ser suor, na verdade se trata de sangue mal limpo, limpo as pressas, meio sem habilidade para isso; me apresso para procurar as minhas roupas e de certa forma, eu torcia para que minhas roupas não estivessem cheias de sangue e de repente, as sirenes começaram a fazer sentido... Começo a vasculhar pelo quarto e lamento pelo meu péssimo costume de atirar as roupas pelo quarto todo antes de fazer sexo, me arrependo disso nesse momento.


    Numa fresta da cama eu encontro a minha cueca e que por sorte e ao mesmo tempo indiferente ela não está suja de sangue, mas, quem iria parar para ver a minha cueca no meio da rua? 

    Minhas calças estão penduradas no gancho da parede, acho por bem conferir os bolsos, celular, carteira, chaves de casa, confiro a minha carteira, o dinheiro, meus documentos. Meus cartões e até mesmo umas duas camisinhas, visto as calças e fecho o cinto, agora preciso achar a minha camisa; enquanto eu procuro a minha camisa, eu acho uma calcinha toda enrolada num cantinho escuro. Deveria haver alguém aqui comigo. Mas, não vejo ninguém e há sangue na cama, as sirenes começam a entrar no estabelecimento...


    Depois de uma procura vacilante, encontro a minha camisa em cima da porta do banheiro, não sei por que cargas d´água a minha camisa está ali, mas, eu praticamente salto por cima da cama para poder apanhar a minha camisa; assim que a puxo, olho para a banheira de hidromassagem... Fico imerso em uma “pseudo” realidade entorpecida... Havia uma mulher deitada na banheira sem água, e pescoço dela estava roxo, ela claramente havia sido enforcada; no exato momento em que a vejo, eu sinto a minha cabeça doer, eu resolvo me olhar no espelho do banheiro, o sangue seco desenhava uma trilha entre a minha sobrancelha e o meu queixo, o uísque deve ter tirado o gosto ferroso da minha boca e com certeza esse deve ser o sangue que vi na cama.


    Eu escuto os carros de polícia freando em frente ao meu quarto, é mais do que um, julgo ser desnecessário, já que estou sozinho, tenho um pensamento que me faz olhar as ligações do meu celular, a ultima foi para o 190... Enfim, tudo se reconstruiu em minha memória, eu liguei para a polícia, para denunciar a mim mesmo e novamente ao olhar para a moça na banheira, lembro que ela não é a primeira, mas, liguei para a polícia na intenção de fazer dela a última. Deixo o dinheiro do pernoite em cima do móvel ao lado da cama e ando em direção a garagem, assim que levanto a porta da garagem, os policiais apontam armas para mim, mostro que estou desarmado e me deito no chão. Sou colocado no banco de trás da viatura e me levam embora, ao sair do motel, grito para que, estiver na cabine da recepção que o dinheiro está no quarto.

 

PÁSSAROS

  PÁSSAROS      Os pássaros estão inquietos no céu e isso sempre me preocupa, costumo pensar que eles sempre sabem um pouco mais do que a ge...